O Documentário O.j.: made in America, entrou para História do Oscar, por ser o mais longo documentário a ser premiado. Produzido pela ESPN americana, possui quase oito horas de duração e uma ampla compilação de informações, noticiários, entrevistas, filmagens - diga-se de passagem amplo material para qualquer historiador fazer a festa. A produção nos ajuda a compreender parte do racismo estrutural nos Estados Unidos e como ele movimenta várias esferas sociais. Além disso, é uma aula de como deve ser feito um documentário, com o máximo de imparcialidade possível. Chama atenção e nos interessa aqui dois aspectos: o primeiro como a mídia pode construir histórias e narrativas fabulosas, muitas vezes mais preocupada com espetáculo do que com a verdade e o segundo como a questão racial nos EUA sofre usos e desusos pela polícia e consequentemente pela justiça.
Mas quem foi OJ Simpson?
Nascido em São Francisco em 1947 na Califórnia, Orenthal James, mais conhecido como O.J., ganhou fama como jogador de futebol nos Estados Unidos. Tendo jogado para times de grande notoriedade como o Buffalo Bills, na década de 70. Fez participações como coadjuvante em filmes como "Corra que a policia vem ai" e participou de vários comerciais de TV, sendo usado como exemplo do "Sonho americano" da tal meritocracia. Afinal, um homem negro, em meados da década de 70, quando o país em termos civis superava a segregação racial, ganhava fama e dinheiro.
No geral, O.J. Simpsons teve uma relevância identitária para a juventude negra dos EUA no período, já que ele se destacou por ter contrariado as estatística e não ter caído no tráfico de drogas, além de ser um grande ídolo para os fãs de futebol americano.
Entenda o caso:
Em 1994, sua ex-mulher Nicole Brown e seu amigo Ronald Goldman foram assassinados e O.J. se tornou réu, portanto, foi absolvido.
“EU NÃO SOU NEGRO, SOU O.J.”.
Ao longo de toda História dos EUA, não apenas os direitos civis dos negros são uma constante na luta social, mas também as questões culturais. Um importante dado de se mencionar aqui é como O.J., consegue atravessar questões segregacionistas e ser "aceito" pela elite branca estados unidense ao longo da sua carreira. Isso é notável pelos vários comerciais que faz e suas participações em programas de TV. A frase dita por ele em um momento que a defesa escolhe como caminho o uso da questão racial, é um reflexo de uma sociedade opressora, reflete em seu íntimo o desejo de ser aceito por uma sociedade branca, que raramente enxerga um negro sem estigmas sociais: a sociedade neoliberal estados unidenses dos anos 90.
O caso do assassinato porém, está extremamente entrelaçado com a questão racial e a policia na cidade de Los Angeles. No mesmo período, uma forte polêmica desencadeou uma série de protestos, movimentando a opinião pública.
Mas que caso é este?
Em 3 de março de 1991 na cidade de Los Angeles, Rodney Glen King foi parado pela polícia local por dirigir em alta velocidade. Eis que quatro policiais o espancaram, sem notarem que um argentino chamado George Holliday filmava tudo com uma handycam da Sony. O episódio gerou revoltas em todo país após os policiais brancos serem inocentados pela justiça.
Obs.: alguma semelhança aqui? alguém falou em racismo estrutural porque os fatos se repetem?
Acontece que os famosos advogados de defesa de O.J. usaram desse longo caso racista da polícia de L.A. ao seu favor, muito embora algumas evidências e registros de agressão de O.J. com a mulher já tivessem ocorrido anteriormente...
O documentário vale todas as horas para refletirmos sobre questões como:
A construção narrativa das mídias;
O longo processo racial presente na História dos EUA, óbvio que no mundo todo, mas no caso aqui particular como fama, capitalismo, política, esporte, cultura, justiça, se entrecruzam, fazendo a gente compreender um pouco porque tanto se fala em racismo estrutural. Partindo do pressuposto de que o preconceito, está presente em várias instâncias, em várias camadas, oprimindo sujeitos de diversas maneiras.
Por fim: o quanto de passado existe neste nosso presente, entre Oj Simpsons, Rodney King e George Flyod.
Parabéns Andrea! Um tema espinhoso, mas que precisamos sempre encarar.