Desconhecido há mais de 100 anos, o jazigo foi encontrado por um historiador cearense em Julho deste ano
O jazigo do jangadeiro e líder abolicionista cearense Francisco José do Nascimento, mais conhecido como Dragão do Mar, foi encontrado 106 anos após sua morte, em 5 de Março de 1914, no Cemitério São João Batista, no centro de Fortaleza. Embora tenha sido revelado na véspera do Dia da Consciência Negra, o local exato (Segundo Plano, Lado Sul, Rua 22) foi descoberto em 24 de Julho deste ano e faz parte de uma pesquisa de doutorado do historiador Licínio Nunes de Miranda.
Licínio Nunes de Miranda é um historiador cearense e doutorando na Universidade da Flórida que pesquisa personalidades do estado do Ceará que participaram do movimento abolicionista. Segundo o pesquisador se sabia que o abolicionista cearense tinha sido enterrado no Cemitério São João Batista, no entanto a informação sobre o local exato havia se perdido com o tempo. Miranda não foi o primeiro a fazer esta busca e afirma que a demora deve-se ao fato de que a própria administração do cemitério não tinha informações sobre e porque muitos pesquisadores não buscavam pelo seu verdadeiro nome. O túmulo estava bem desgastado e envelhecido, e segundo a identificação da placa antiga presa à construção, também estão enterrados no local Ernesta Brígido do Nascimento e Luís Gonzaga Brígido, segunda esposa jangadeiro e um parente desta respectivamente.
O historiador cearense espera que esta nova descoberta crie uma reflexão sobre a identidade do povo de seu estado a partir de figuras que mudaram a história local e nacional, assim como Dragão do Mar — além de chamar atenção para a necessidade de preservação e a responsabilidade com o patrimônio público (tanto construções como documentos em arquivos).
Quem foi Dragão do Mar?
Francisco José do Nascimento, também conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde, nasceu em 1839 em Canoa Quebrada, no município de Aracati, na província do Ceará. Filho de pescadores e de origem humilde, enriqueceu com o trabalho de jangadeiro no Porto de Fortaleza, onde trabalhou como prático-mor, sendo responsável pelo embarque e desembarque de pessoas e mercadorias. Ele ficou conhecido pelo Ceará e no Brasil quando em Janeiro de 1881 se recusou a embarcar escravizados que estavam na província e que seriam transportados ao Rio de Janeiro, argumentando que naquele porto não embarcavam mais escravizados. Em Agosto do mesmo ano uma nova tentativa de embarcar escravizados para São Paulo foi impedida por Dragão do Mar, consolidando a postura de que o porto estava fechado para o tráfico interprovincial. Nesse período Chico da Matilde tinha certo poder político por ser membro da Guarda Nacional, onde conquistou a posição de major.
Os feitos do Dragão do Mar foram reconhecidos pelo Movimento Abolicionista Cearense, fundado em 1879, e por abolicionistas do Brasil inteiro, colocando-o como um dos líderes da causa. Fortalecido, o Movimento Abolicionista Cearense conseguiu fazer pressão às autoridades provinciais, fazendo com que a escravidão fosse abolida no Ceará em 25 de Março de 1884 — sendo a primeira província a tomar tal medida. Além do Ceará, Amazonas foi a única província que promoveu a abolição antes da Lei Áurea.
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