A guerra dos cem anos foi um dos maiores conflitos da idade média, entre duas das principais potências europeias: França e Inglaterra. Apesar do nome a guerra durou mais de um século começando em 1337 e só acabando em 1453 entretanto não foi um conflito ininterrupto, mas sim uma série de disputas que incluíam varias batalhas.
Para entender a origem deste conflito precisamos recuar no tempo até o ano de 1066, quando um duque Guilherme da Normandia (território francês próximo ao canal da mancha) conquistou a Inglaterra e tornou-se rei dos ingleses, a conquista da Inglaterra se deu após a morte do rei Eduardo, o Confessor o qual era primo de primeiro grau do Guilherme, abrindo assim uma brecha para conquista. Os nobres ingleses elegeram Haroldo II, filho de Goduíno de Wessex, mas Guilherme invadiu Inglaterra com um exército de 7.000 homens e derrotou-o na Batalha de Hastings, entretanto manteve seu ducado no território francês sendo assim ele também era súdito do rei da França, este passou seus títulos aos seus herdeiros, e aqui esta a raiz da guerra que perduraria por mais de um século.
Comumente alguns historiadores dividem a guerra dos cem anos em quatro períodos: o primeiro entre 1337 e 1364, o segundo entre 1364 e 1380, o terceiro entre 1380 e 1422, e o quarto entre 1422 e 1453, o primeiro período começa em 1328 quando o rei francês Carlos IV morreu sem deixar herdeiro. O então rei da Inglaterra Eduardo III, reivindicou o trono para si, pois além de ser súdito era sobrinho de Carlos IV, porém a nobreza francesa tinha outros planos, reunidos em uma assembléia escolheram o conde Filipe de Valois por ser neto do rei Filipe III da França, como novo rei que ficou conhecido como Filipe VI. A reivindicação do Eduardo III da Inglaterra foi negada pois segundo a lei sálica ele não poderia ascender ao trono através da linhagem feminina, já que o mesmo era sobrinho por parte de mãe Isabel de França, irmã de Carlos IV. O rei inglês primeiramente aceitou a sucessão de Filipe como parente homem mais próximo através da linhagem masculina, porém a França declarou apoio a Escócia na sua guerra por independência, o rei Inglês considerou uma ofensa e passou a reclamar o trono, iniciando assim a guerra que ficaria conhecida como guerra dos cem anos.
Alguns comerciantes franceses apoiaram a causa do rei Eduardo III por terem acordos comerciais francamente estabelecidos com a Inglaterra, por conta desse apoio, os ingleses venceram as primeiras batalhas e conseguiram o controle de alguns territórios do Norte da França, como o importante condado de Flanders (atual Bélgica) e posteriormente o domínio sobre o canal da mancha. Eles usavam uma tática de guerra chamada Chevauchée, na qual eles invadiam pilhavam e queimavam o território inimigo e partiam para o próximo alvo isso reduzia a produtividade da região e forçava o inimigo a combater, além de diminuir a moral do governo inimigo levando a revoltas e fuga dos camponeses para outras cidades e castelos. Até aquele instante, observando a superioridade bélica dos ingleses com seu famoso arco longo capaz de disparar flechas de longo alcance, e até de penetrar nas pesadas armaduras dependendo da distância do alvo, com essa superioridade era possível apostar na queda da monarquia francesa. Entretanto, houve uma pausa no conflito em decorrência da Peste Negra.
A Batalha de Crécy
A batalha de Crécy foi primeiro grande conflito da guerra dos cem anos ocorreu em 26 de agosto de 1346, entre os exércitos de Filipe VI da França e Eduardo III da Inglaterra. o exército francês seguia os rastros de destruição deixados pelos ingleses através do Chevauchée, ate alcança-los no sul da cidade de Calais, o exercito inglês foi atingido por uma forte diarreia os deixando mais vulnerareis, dessa forma a estratégia de batalha foi o ponto decisivo para o sucesso de Eduardo III nesta campanha, o monarca posicionou seu exército no topo de uma colina, restringindo o combate pelo lado inglês à infantaria, a pesada chuva da noite anterior deixou o terreno em aclive totalmente enlameado, além de danificar as bestas usadas pelos franceses, que possuíam um alcance menor do que o dos arcos ingleses.
Os franceses lideraram a ofensivas com o ataque de 6.000 besteiros e mercenários contratados a Gênova para participar da batalha, com seus armamentos danificados não tiveram a minima chance contra os arqueiros ingleses, mas os franceses ainda estavam confiantes apesar do primeiro fracasso graças à sua superioridade numérica uma vitória parecia assegurada, os cavaleiros franceses partiram então para o ataque, entretanto o terreno enlameado em aclive não era adequado à carga em montaria, e os diversos obstáculos que já haviam sido preparados pelos ingleses somavam-se agora os corpos dos besteiros genoveses que haviam sido abatidos na primeira fase da batalha, os cavalos começaram então a refugar a carga e jogar os cavaleiros sobre a lama, liderados pelo filho do rei Eduardo III, dito Príncipe Negro a infantaria resistiu a cavalaria francesa abrindo espaço para os arqueiros ingleses atirarem na cavalaria matando-os e os transformando em obstáculos para os demais cavaleiros que o seguiam, a derrota francesa foi desastrosa as perdas giram em torno de 6.000 contra pouco mais de 300 do lado inglês.
A derrota na batalha de Crécy mostrou aos orgulhosos cavaleiros franceses, que ainda apostavam na superioridade numérica e numa cavalaria numerosa, um exército moderno mesmo que menor era superior.
A Batalha de Poitiers
A batalha de Poitiers foi uma das batalhas mais importantes da guerra dos cem anos, ocorreu em 19 de setembro de 1356, o exército da Inglaterra era comandado por Eduardo, o Príncipe Negro e o exercito francês liderado por João II filho de Filipe VI que faleceu 6 anos antes. O príncipe Negro liderou um cerco a cidade de Tours, pois as condições do local não permitia a tomada da cidade, o exército francês os atacou e eles bateram em retirada para o sul próximo a cidade de Poitiers e lá o Príncipe Negro conseguiu derrotar a força inimiga e capturar o rei João II, seu filho Filipe de Valois, além de outros nobres, os ingleses mantiveram os prisioneiros em Londres.
A batalha foi decisiva e levou a França assinou o tratado de Brétigny reconhecendo o domínio inglês, os 39 artigos do tratado impunham condições pesadas a França, para além da confirmação de Calais como território inglês e do Ducado da Aquitânia e Gasconha como vassalo do rei Eduardo III de Inglaterra, impunham a entrega de variadas cidades, portos e condados, a França abdicava de cerca de um terço do seu território de então. Foi estabelecido o resgate do rei João II e do seu filho Filipe de Valois em três milhões de coroas, uma quantia enorme para a época, pagável num complicado sistema de prestações. Em troca, Eduardo III de Inglaterra abdicava da sua pretensão ao trono de França e Ducado da Normandia e da suserania do Ducado da Bretanha, este tratado marca também o fim da primeira fase da guerra dos cem anos.
Na libertação de João II foram pagos 600.000 coroas na cidade de Calais, a 24 de outubro, data da ratificação oficial do tratado pelos reis envolvidos e seus filhos mais velhos. Ficou decidido também que quarenta nobres franceses, entre os quais Luís I, Duque de Anjou, filho do rei João II seriam entregues como reféns como garantia dos restantes pagamentos, que seriam feitos em seis prestações de 400.000, cada seis meses, um quinto dos reféns seria libertado contra o pagamento da prestação, pouco se fez para conseguir os fundos especificados no tratado, as condições econômicas catastróficas na qual se encontrava a França deixou os reféns entregues aos seus próprios meios, alguns nobres negociaram sua própria libertação diretamente com o rei, Luís de Anjou decidiu fugiu, esse ato foi visto como desonra por João II, que decidiu corrigir a falta de palavra e entregar-se voluntariamente como refém no lugar do filho, porém complicou ainda mais a situação da França, que agora tinha que negociar outras condições de resgate, entretanto o rei João II morreu pouco tempo depois, sendo sucedido pelo seu filho mais velho Delfim Carlos, agora Carlos V de França.
Thayane Gomes Potiguar, 22 anos, Graduada em História.
Uma amante da música, literatura e animais que possui como linhas de pesquisas favoritas: mitologias e feminismo no século XX.
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