Manifestações contra o racismo se espalharam pelo mundo e com elas questionamentos acerca de algumas figuras históricas...
Manifestantes antirracistas derrubaram uma estátua de Edward Colston (1636-1721) localizada na cidade de Bristol, no sul da Inglaterra, durante um ato no domingo (7) que reuniu 10 mil pessoas. O monumento homenageava um rico comerciante da região que durante muito tempo lucrou com o tráfico de africanos que eram vendidos como escravos nas colônias inglesas na América.
A estátua ficava sobre um pedestal de pedra e se encontrava coberta por uma lona preta com o intuito de evitar o vandalismo durante os protestos. Antes de ser derrubada, os manifestantes jogaram ovos e diziam que queriam olhá-la de perto. Com o auxilio de uma corda, levaram-a ao chão em 30 segundos, colocaram uma placa escrita "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam) no pedestal e a jogaram no rio Avon, que corta a cidade. Inaugurada em 1895, a estátua de bronze já causava polêmica e era alvo de críticas há muito tempo, tendo até uma petição com mais de 11 mil assinaturas pedindo pela sua retirada.
De acordo com a BBC, Edward Colston fez grande fortuna no século XVII e estima-se que a Royal African Company, companhia monopolista que ele era sócio, tenha transportado por volta de 84 mil africanos escravizados (entre homens, mulheres e crianças) oriundos da África ocidental. Estimativas também apontam que 19 mil morreram durante a árdua viagem pelo Oceano Atlântico. Além de escravos, Colston comercializava vinho, açúcar e pano.
Apesar de ser um comerciante de escravos, Colston era considerado um "cidadão de bem" na época. Ele utilizou parte do dinheiro vindo do comércio de escravos para a financiar a construção de uma escola, hospitais, igrejas e dois asilos distribuídos em sua cidade natal, Bristol, e em Londres, o que lhe rendeu apoio para conseguir um assento na Câmara dos Comuns do Parlamento Inglês. Por conta de seus feitos à comunidade, Edward Colston ganhou uma estátua em sua homenagem mais de 100 anos após sua morte, porém também há vários locais em Bristol que reverenciam o traficante como avenidas, ruas, escolas públicas e estradas. Nos últimos anos, campanhas tem sido feitas para apagar o nome de Colston de locais públicos da cidade.
No ano de 2018, a prefeita de Bristol, Cleo Lake pediu para que retirasse o retrato de Edward Colston que ficava em seu escritório na prefeitura da cidade. De ascendência afrocaribenha, a prefeita dizia que não suportava o "olhar" do traficante de escravos enquanto trabalhava. "Eu passo muito tempo aqui, quase todos os dias. Não vou ficar confortável compartilhando o escritório com o retrato de Colston.", afirmou ela.
Autoridades policiais da cidade agora buscam identificar os envolvidos na derrubada da estátua e o chefe de policia local, Andy Bennett, categorizou como um "ato claramente criminoso". Apesar disso, ele agradeceu aos ativistas que respeitaram as medidas contra o coronavírus exigidas pelas autoridades. "Gostaria de agradecer aos organizadores por seus esforços para incentivar os manifestantes a seguir as orientações do governo. Manter o público seguro era nossa maior prioridade e felizmente, não houve casos de desordem e nenhuma prisão foi feita.", declarou Bennett.
Logo após ser levada ao chão, manifestantes a chutaram e colocaram o joelho na estátua, em referência a abordagem policial que acabou na morte do estadunidense George Floyd em Minneapolis, no estado de Minnesota, Estados Unidos. Desde a morte de George Floyd no dia 25 de Maio, várias manifestações contra o racismo se espalharam ao mundo, chegando inclusive a países que durante muito tempo financiaram o tráfico de escravos pelo Atlântico.
Depois desse acontecimento, o debate sobre estátuas de figuras históricas duvidosas se espalharam pela Europa e pelo mundo. No dia 8 de Junho, manifestantes queimaram uma estátua do rei Leopoldo II da Bélgica, cuja administração colonial matou mais de 10 milhões de pessoas no Congo (antigo Zaire). No Brasil, o debate começou envolvendo a estátua do bandeirante Borba Gato em Santo Amaro, São Paulo, construída em 1962. No período colonial, os bandeirantes ficaram conhecidos por explorar o território colonial português e escravizar indígenas.
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