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Ignaz Semmelweis: o médico que revolucionou os cuidados higiênicos

Atualizado: 5 de out. de 2020

Criei esses procedimentos para eliminar o terror das maternidades, para manter a esposa viva para o marido e a mãe para o filho. — Ignaz Semmelweis

Em 2020, a lavagem das mãos é o principal “gesto de barreira” usado para combater a propagação do Covid-19. No passado, era mais seguro ser tratado em casa do que em um hospital, onde as taxas de mortalidade eram de três a cinco vezes maiores do que em ambientes domésticos. Não haviam grandes centros cirúrgicos higienizados, nem se quer os médicos usavam luvas, quando muito menos suas mãos não estavam sujas. Um médico foi considerado como louco por indicar o procedimento de lavar as mãos. Hoje, Ignaz Semmelweis se vinga.


Lavando as mãos (Fonte: Wix; Máquina dos Tempos).

Breve histórico


Ignaz Philipp Semmelweis nasceu em 1º de julho de 1818 em Buda, hoje parte de Budapeste,  Hungria, de família de  origem germânica. Iniciou os estudos universitários no curso de Direito  na Universidade de Viena, em 1837. No ano seguinte, mudou para a Faculdade de Medicina, graduando-se em 1844. Em seguida,  decidiu se especializar em obstetrícia, sendo nomeado assistente na primeira clínica de Obstetrícia do Hospital Geral de Viena, na Áustria.

Dr. Ignaz Semmelweis em 1860. (Fonte: Getty imagens).

Notas e observações


Em julho de 1846, Semmelweis foi nomeado chefe da clínica no Hospital Geral de Viena. Ele está estudando as causas da febre puerperal que ocorrem em mulheres após o parto ou aborto. Era o flagelo das primeiras maternidades hospitalares.


O jovem médico observava que as mulheres que davam à luz em sua casa estavam menos expostas à febre puerperal e, por outro lado, os dois pavilhões de parto de seu hospital não tinham a mesma mortalidade, escrevia: "morremos mais em Klin do que em Bartch". Experimentava que, enquanto o primeiro médico conduzia estudantes de medicina, o segundo, parteira. Tomava notas para esclarecer seus questionamentos e o mistério. Semmelweis sugeriu que as parteiras do segundo pavilhão deveriam ser trocadas por médicos aprendizes no primeiro. Resultado: "Agora morremos menos em Klin do que em Bartch!".

Taxas de mortalidade por febre puerperal na Primeira e na Segunda Clínicas no Hospital Geral de Viena 1841-1846.

Acontecia que os estudantes de medicina, às vezes, praticavam dissecções cadavéricas antes de retornar à sala de parto. Semmelweis então exige a lavagem das mãos antes de cada operação, mas sua iniciativa atinge seus colegas e ele é demitido!


Em seguida, seu amigo Jakob Kolletschka morreu de sepse após ferir o dedo com um bisturi durante a dissecção de um cadáver. A autópsia revelou uma patologia idêntica à das mulheres que morreram de febre puerperal. Essa observação traz Semmelweis à evidência: "partículas"  invisíveis, mas muito numerosas, presentes nos cadáveres são a causa dessas mortes. Semmelweis descobriu micróbios sem saber a palavra em si só foi inventada em 1878.


Lavar com água e sabão não é suficiente. Semmelweis exigia uma lavagem das mãos de cinco minutos com solução de hipoclorito de cálcio para lavar as mãos entre o trabalho de autópsia e o exame dos pacientes, estendendo-o a todos os exames que colocam os médicos em contato com matéria orgânica em decomposição.


Uma batalha: "Lavem as mãos!"


A implementação das recomendações de Semmelweis e Pasteur rapidamente levou a resultados espetaculares. De fato, é a melhoria da higiene, ainda mais que as vacinas, que provocou, a partir de meados do século XIX, a queda na mortalidade infantil e a extensão da expectativa de vida.

Carta aberta a todos os professores de obstetrícia'.

A hipótese de Semmelweis, de que havia apenas uma causa, unicamente a questão da limpeza, era extrema na época e amplamente ignorada, rejeitada ou ridicularizada. Ele foi demitido do hospital por razões políticas e assediado pela comunidade médica em Viena, sendo finalmente forçado a se mudar para Budapeste.


Além disso, a hipótese de Semmelweis contrariava o paradigma vigente, a teoria miasmática: “Somente mais tarde, a era da bacteriologia, iniciada com os trabalhos de Louis Pasteur e Robert Koch, forneceu uma nova racionalidade ao uso de substâncias antissépticas utilizadas por cirurgiões. Nesse campo, os artigos publicados por Joseph Lister, na revista The Lancet, em 1867, documentando suas experiências com o uso do spray carbólico, tiveram enorme impacto”, explica o historiador Flavio Edler, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).


No Brasil, a introdução da técnica foi paulatina. “Desde a década de 1880, já há menções ao curativo de Lister como ‘profilaxia das septicemias cirúrgicas’ para evitar a ‘fermentação pútrida’, descoberta por Pasteur”, afirma o historiador.


Em segundo lugar, também havia razões institucionais: a ausência de publicações em periódicos científicos e a difícil relação com a comunidade médica. Semmelweis se recusou durante muito tempo a escrever artigos e difundir suas descobertas. Quando o fez, em 1861, utilizou o livro ‘A etiologia, o conceito e a profilaxia da febre do pós-parto’ para atacar os médicos que não concordavam com ele, atribuindo-lhes a responsabilidade pela morte das vítimas da febre do pós-parto. Obviamente, a obra gerou muitos confrontos e o húngaro se viu relegado ao ostracismo.


Semmelweis ficou indignado com a indiferença da classe médica e começou a escrever cartas abertas e cada vez mais furiosas para os principais obstetras europeus, às vezes denunciando-os como assassinos irresponsáveis. Seus contemporâneos, incluindo sua esposa, acreditavam que ele estava enlouquecendo.


Apesar disso, esse obstetra húngaro tornou possível reduzir drasticamente a taxa de mortalidade nas maternidades, impondo um simples gesto: lavar as mãos. Mas, como muitos pesquisadores que estavam certos "muito cedo" , ele atraiu a ira de seu tempo. Hoje, esse gesto é um princípio básico de higiene que aprendemos desde a infância.

Um trágico fim


Em 1865, quase vinte anos após sua descoberta, ele foi internado no Landesirrenanstalt Döbling (hospício provincial). Ele morreu lá de choque séptico apenas 14 dias depois, possivelmente como resultado de ser severamente espancado pelos guardas. A prática de Semmelweis ganhou ampla aceitação apenas anos após sua morte, quando Louis Pasteur desenvolveu a teoria microbiana das doenças, oferecendo uma explicação teórica para as descobertas de Semmelweis. Ele é considerado pioneiro em procedimentos anti-sépticos.


Infelizmente, ele não teve papel nas mudanças que seriam realizadas pelos pioneiros antes da teoria dos germes, como Louis Pasteur, Joseph Lister e Robert Koch. Uma das últimas coisas que Semmelweis escreveu foi:

Quando revejo o passado, só posso dissipar a tristeza que me invade imaginando o futuro feliz em que a infecção será banida... A convicção de que esse momento deve chegar inevitavelmente mais cedo ou mais tarde alegrará o momento de minha morte. Ignaz Semmelweis
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