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Qual é o significado do título "Dom"?

Atualizado: 3 de jun. de 2020

Esse título está presente nos nomes de reis portugueses, imperadores brasileiros e membros da Igreja Católica, mas você sabe qual é sua origem e seu significado?


Em algum momento da sua vida você provavelmente já se deparou com algum personagem histórico (ou até mesmo da atualidade) que ostenta um "Dom" antes de seu nome. Dom João VI, Dom Pedro I e Dom Pedro II, talvez, sejam os exemplos mais vívidos que possuíam esse título na memória dos brasileiros. Mas você sabe o que significa esse título, atribuído à pessoas tão importantes?


Dom João VI, Dom Pedro I e Dom Pedro II. © Wikipédia

A origem


"Dom" é uma abreviação Domnus, palavra esta que deriva de Dominus, que significa "senhor" em latim. Nos primórdios do cristianismo o título era empregado somente a Deus, porém pouco tempo se passou e papas começaram a usar (já na forma de Domnus) como forma de afirmar a ideia de que os sumos pontífices seriam a representação de Deus na Terra. Depois disso, o título se popularizou entre os membros de todo o clero de cardeais a monges.


Essa tradição romana se espalhou para os países de língua latina, como Portugal, Espanha, Itália e em menor escala a França e a Romênia, fazendo com que Dom se tornasse um título dado à "pessoas de respeito". Por isso, era utilizado entre monarcas, príncipes e nobres ibéricos e italianos, além de clérigos — principalmente de ordenações religiosas, como a Ordem de São Benedito, a Ordem de São Bruno e a Ordem Trapista.


Dona (com a inicial maiúscula) é sua forma feminina e em épocas mais antigas não era necessariamente sinônimo de pronome de tratamento dado a mulheres mais velhas, mas sim à mulheres que vinham de uma família em que homens ostentavam o Dom. Por isso não se assuste quando vir em algum livro de História uma jovem nobre com um Dona antes de seu nome (por exemplo, Dona Maria I - rainha de Portugal).


Há alguns historiadores que defendem a ideia que o título venha do hebraico Adon, que significa mestre ou senhor.


Caso português


Em Portugal, Dom se reservou em especial aos membros da realeza (reis, rainhas, príncipes, princesas, infantes, infantas), membros do alto clero e nobres que comprovassem serem descendentes de algum rei português. Outra forma de se obter era por meio de uma mercê (concessão ou recompensa régia), geralmente dada à pessoas que realizaram grandes feitos (como é o caso de Dom Vasco da Gama), oferecido como barganha política (famosa "troca de favores") ou quando rei estava muito endividado com certa pessoa (perdoando assim a dívida). Não havia a necessidade de ter um título de nobreza para ser agraciado com Dom e este podia ser hereditário ou não, tudo dependia de como seria formulada a mercê do rei.


De modo geral, o Dom era transmitido para todos os varões e varoas, entretanto estas só poderiam transmitir se fossem chefes de casa dinástica. As famílias Eça (descendentes de Dom Pedro I); Noronha (descendentes de Dom Fernando I); Bragança, Faro e Portugal (descendente de Dom João I) e Lancastre (descendentes de Dom João II) são alguns exemplos que recebiam o título por serem ramos originários de descendentes de reis.


Filhos ilegítimos só poderiam receber o título (e transmitir) caso o pai autorizasse, entretanto era bem incomum bastardos receberem.


Famílias de origem real de castelhana, como os Castro, também podiam ostentar o título em Portugal.


Dom Pedro I, Dom Fernando I, Dom João I e Dom João II. © Wikipédia

Caso brasileiro


Após a independência do Brasil em relação a Portugal em 1822, o novo país continuou com uma monarquia e com a mesma família no poder, por isso muitas tradições portuguesas permaneceram. No entanto, por conta da nobreza brasileira ser nominal (não hereditária), o título de Dom e Dona passou a ser utilizado somente entre os membros da família imperial e entre os membros do alto clero. No Brasil, tanto homens quanto mulheres herdavam o título.


Princesa Dona Isabel e o Imperador Dom Pedro II do Brasil. © Wikipédia

Caso espanhol e das colônias hispano-americanas


De acordo com a Lei Filipina, somente o soberano poderia agraciar alguém com esse título. Reis, rainhas, príncipes, princesas, infantes, infantas poderiam possuí-lo, embora fosse mais comum entre os infantes e infantas — filhos e filhas do rei espanhol que não eram herdeiros diretos ao trono. Membros da alta nobreza, do alto clero, do alto escalão do Exército e da Armada e grão-mestres das Ordens de Cavalaria só poderiam utilizar por meio de uma autorização régia.


Na Espanha a transmissão deste título variava dependendo da mercê. No caso de nobres, em alguns somente o primogênito varonil herdava e em outros todos os filhos herdavam, porém se encerrando e não podendo passar aos netos. Em caso de pessoas comuns, o título vinha por meio de uma mercê, porém muitos desrespeitaram a lei filipina e transmitiram de forma generalizada. Em ambos os casos podia ser hereditário ou encerrado com a morte do agraciado (tudo dependia do humor do rei na hora da concessão).


Mesmo com regras ainda mais rígidas que em Portugal, com o tempo Dom virou Don na Espanha e se popularizou entre comerciantes e pessoas comuns com um pouco mais de prestígio social (um processo mais ou menos semelhante ao que aconteceu com o nosso Vossa Mercê). No caso espanhol, mais recentemente tanto Don como Doña passaram a ser utilizados para pessoas com a idade mais avançada com uma grande carreira profissional ou uma trajetória de vida marcante. Formalmente estes títulos estão cada vez mais restritos a professores e sacerdotes católicos.


Na América Espanhola, o título era mais difundido, sendo atribuídos a pessoas respeitadas com a idade avançada. Em alguns países como o México, Don ou Doña é dado para pessoas que são muito respeitadas em certas comunidades. Na Colômbia já tem uma conotação hierárquica, sendo atribuído e utilizado por pessoas para se destacar dos que se encontram numa situação econômica inferior.


Um dos pseudônimos de Pablo Escobar era "Don Pablo".

Caso italiano


Na Itália, o título na forma masculina (Don) e feminina para as esposas (Donna) foi utilizado por descendentes de duques e príncipes, sendo herdado apenas por varões, além de também ser usual entre monges e padres. Essa forma se popularizou na região durante o domínio espanhol no século XVI e a forma masculina também podia ser encontrada como Donno.


Dom Bosco (1815-1888) é um dos padres mais famosos da história da Itália. © Wikipédia

Na Sicília, mais especificamente, é utilizado ainda nos dias atuais como forma de tratamento a pessoas já idosas que são sábias e muito respeitadas. Na mesma região é utilizado por chefes de famílias mafiosas, como por exemplo, a Cosa Nostra. Com a imigração italiana para os Estados Unidos, esse costume se tornou comum entre as máfias das principais cidades estadunidenses.


Marlon Brando interpretando o mafioso italo-americano Don Corleone em "O Poderoso Chefão" (1972).

Caso francês


Na França o título de Dom Don, em francês — foi pouquíssimo utilizado, ficando restrito somente a membros do alto clero, como bispos, arcebispos e cardeais.


Caso Romeno


Durante a Idade Média o título de Dom Domnitor, em romeno, que significa "primeiro príncipe" — era utilizado por governantes da Moldávia e da Valáquia, entretanto com o domínio do Império Otomano passou a dar lugar aos títulos tradicionais voievod e hospodar. Com a formação da Romênia moderna, Domnitor passou a ser o título do monarca do país e foi utilizado entre os anos de 1862 e 1881. Após isso, os Domnitori passaram a ser chamados de reis.


Domnitori Alexander John I (1820-1873) e Carol I (1839-1914). © Wikipédia

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