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“A ideia de progresso científico”. In: Os filósofos e as máquinas. Paolo Rossi


Paolo Rossi é um historiador de origem italiana, que nasceu na cidade de Urbino, em 1923. Paolo faleceu no mês de janeiro em 2012, na cidade de Florência. Ao longo de sua vida Paolo Rossi se destacou enquanto filosofo, professor universitário, escritor e historiador – solidificando nessas áreas como um destacado intelectual.

O intelectual, recebeu vários prêmios em decorrência dos seus trabalhos. Dentre eles, o Prêmio Viareggio, recebido no ano de 1992, pelo livro: O passado, a memória, o esquecimento – seis ensaios da história das ideias – publicado no Brasil pela Editora Unesp, em 2007; ganhou a medalha George Sarton, pela Sociedade Americana de História da Ciência, em 1985; obteve a medalha Pictet, da Sociedade de Física e História Natural de Genebra, em 1985; um de seus últimos prêmios foi cedido pela Fundação Internacional do Prêmio Balzan, em 2009. Além do mais, Paolo Rossi, se alicerça como especialista na área da História das ideias, com ênfase nos séculos XVI e XVII; ele, também, organizou importantes edições de obras de Diderot, Rousseau e Francis Bacon, entre outros.

Dentre suas obras principais publicadas no Brasil, destaca-se: A ciência e a filosofia dos modernos (1992); Os sinais do tempo (1992); Naufrágios sem espectador: a ideia de progresso (1999); O nascimento da ciência moderna na Europa (2001); Francis Bacon: da magia à ciência (2006); e, Os filósofos e as máquinas (1989).

É justamente sobre a última obra citada, Os filósofos e as máquinas, que debruçaremos nossa atenção. Esse trabalho de Paolo Rossi, contém 183 (cento e oitenta e três) páginas, 3 (três) capítulos – I, “Artes mecânicas e filosofia no século XVI”; II, “A ideia de progresso científico”; III, “Filosofia técnica e história das artes no século XVII” –, além do Prefácio, Prólogo e Apêndice. Todavia, somente o capítulo II (dois), p. 63-88, será sintetizado.

Em “A ideia de progresso científico”, Rossi, aponta 6 (seis) capítulos menores – ou, sub-capítulos –, são eles: A revolução científica; O ideal “progressivo” do saber nos engenheiros do século XVI; O progresso das ciências e a superioridade dos modernos: Bodin, Le Roy, Bruno e Bacon; A disputa sobre antigos e modernos; O progresso através da colaboração: as academias; e, A humanidade como sujeito cognoscente: Pascal. Diante do exposto, adentremos no seu texto – contudo, sem empreender críticas ou intromissões.

Inicialmente, em “A revolução científica”, o autor afirma que com a grande revolução científica e filosófica do século XVII, foi se formando e reforçando um determinado modo de conceber a ciência, que ainda está presente e operante até os dias atuais. Posteriormente, Rossi, convoca alguns dos componentes essenciais que significaram a ciência em sua origem histórica; para ele, esses componentes hoje são convertidos em verdades do senso comum.

Nesse sentido, Rossi destaca que, o apelo à “natureza” e à “experiência” – tão difundidos na cultura do Renascimento –, a recusa da autoridade e a polêmica contra os “antigos”, não resultou em uma ciência constituída por contribuições individuais organizadas sob a forma de um discurso sistemático, oferecidas com vistas a um resultado geral que seja patrimônio de todos. Ou seja, a partir dos ideais mencionados, a cultura do Renascimento não frutificou a uma ciência com caráter público, democrático e colaborativo.

Partindo desse pressuposto, o autor afirma que essa concepção de ciência – que, segundo Rossi, encontra sua primeira menção nas obras filosóficas de Francis Bacon – tem um papel decisivo e determinante na formação da ideia de progresso. Para Rossi, a ideia de progresso e a concepção do saber científico nasceram na Europa no momento em que uma enorme quantidade de descobertas modificara profundamente o modo de viver e pensar dos homens. Rossi, aprofunda sua análise utilizando do filósofo Tommaso Campenella e sua obra, A Cidade do Sol.

Na visão do autor, a partir da descoberta de novas terras (do “Novo Mundo”), passou-se a constatar a existência de plantas, animais e homens antes desconhecidos. Logo, originou-se um novo empirismo ligado ao conceito de uma “natureza” não mais homogênea e uniforme, mas variada conforme as regiões da terra. Para mais, a nova astronomia, também, contribuiu muito para evidenciar a limitação das “verdades” descobertas pelos antigos. Alargando desmedidamente os limites do universo, chegando até mesmo, em alguns casos, à afirmação de um universo infinito. Enfatiza o autor que, “assim se confirmava a ocorrência de uma grandiosa mudança do saber” (p. 67). Concluindo dessa forma o primeiro sub-capítulo.

Partindo para a sua segunda fala, “O ideal ‘progressivo’ do saber nos engenheiros do século XVI”, Rossi salienta que, em vários textos de “artesãos superiores” e “engenheiros” do século XVI, encontramos presentes as primeiras, ainda que rudimentares, formulações do novo conceito de ciência e de progresso científico. Dessa forma, o historiador cita alguns desses textos e autores. Como é o caso da dedicatória de Pirckheimer, no seu Tratado sobre as proporções do corpo humano (1528); do geografo alemão Apianus em Quadrans astronomicus (1532); também, do cirurgião parisiense Ambroise Paré (1510-1599); ou, Agostino Ramelli, engenheiro militar do rei da França e da Polônia, no prefacio da obra intitulada por Diversas e artificiosas máquinas (1588).

Na sequência, em “O progresso das ciências e a superioridade dos modernos: Bodin, Le Roy, Bruno e Bacon”, Paolo Rossi evidencia que, em diversos casos à perfectibilidade da arte não estavam apenas ecoando antigas doutrinas já presentes nos textos de Aristóteles, Hipócrates, Sêneca e Averróis. Pois, de acordo com o autor, a ideia afirmada nos textos Renascentistas não era a de um saber que se enriquece progressivamente de modo indefinido, mas a ideia de que nenhuma ciência chega à sua perfeição por obra de um só indivíduo.

Para o autor, é difícil identificar em que ponto as afirmações presentes nos tratados técnicos do século XVI se libertaram do peso das formulações dos Antigos. Mas, para ele, é indubitável que seja na unânime insistência no caráter progressivo e colaborativo das artes; ou seja, na afirmação de um saber que cresce sobre si mesmo no tempo e se enriquece pelo labor de muitos, não poderia ser explicada apenas pelas reminiscências de textos clássicos. Diante dessa discussão, o autor pontua que é viável supor diante do quadro de descobertas e de novos resultados, destacados nos textos de viajantes e teóricos de navegação, a superioridade dos modernos.

Diante disso, Rossi apresenta que, os advogados da superioridade dos modernos e os defensores da não-inferioridade dos modernos em ralação aos antigos utilizarão basicamente dois argumentos para sustentar sua tese. Primeiro: as descobertas técnicas, que modificaram profundamente a vida dos homens, são a prova viva dos progressos realizados pelo gênero humano; Segundo: as grandes descobertas geográficas, que unificaram o mundo, tornando-o semelhante a uma única cidade, deram estreitos limites à cidade em que viviam e agiam os antigos.

Para tais comparações entre os Antigos em contraposição dos Modernos, Paolo Rossi se abastece de alguns escritos, concepções e análises feitas por Jean Bodin (1530-1596), Louis Le Roy (1510-1577), Giordano Bruno (1548-1600) e Francis Bacon (1561-1626). Pode-se utilizar de uma passagem determinante para a síntese desses momentos: o autor se incube dos textos desses filósofos – em especial de Bacon – para dizer que,

Sob tais bases, a Antiguidade realmente pôde se afigurar como a juventude do mundo, e a época atual como a velhice, possuído maiores conhecimentos das coisas humanas e maior maturidade de juízo, visto que ‘é enriquecida por infinitos experimentos e observações’ (p. 78).

Por conseguinte, no sub-capítulo “A disputa sobre antigos e modernos”, o historiador permanece na linha que já havia sido explanada no sub-capítulo anterior. Todavia, Rossi, busca evidenciar outros pensadores que articularam seus escritos na tradição: Antigos versus Modernos. Como por exemplo, o autor utiliza de, Alessandro Tassoni e seu livro nomeador por Dez livros de pensamentos diversos (1620). Nesse livro, o autor apresenta que, a tese da superioridade dos modernos era defendida não só a partir da inferioridade da religião pagã em relação à cristã, mas também com o argumento da perfectabilidade das artes e ciências.

Posteriormente, em contraposição ao eixo Moderno no Antigo-Moderno. O autor, menciona Boileau que, nas Réflexions critiques sur Longin (1694), defendia encarniçadamente Píndaro e Homero, e num feroz epigrama acusava de impiedade aqueles que desdenhavam de Homero, Platão, Cícero e Virgílio.

Direcionando para os momentos finais, em “O progresso através da colaboração: as academias”, Paolo Rossi afirma que, as conquistas da ciência e da técnica são o testemunho vivo da superioridade dos modernos; elas oferecem a prova mais evidente do caráter progressivo do conhecimento. Nesse sentido, para Rossi, de um saber resultante da colaboração originaram-se as constantes relações entre os eruditos, os grandiosos epistolários, as grandes academias e sociedades científicas do século XVII. Sendo assim, pela primeira vez na história, alguns estudiosos haviam se reunido para criar organizações de pesquisa fundadas na cooperação entre os pesquisadores e na publicidade dos resultados atingidos. Segundo o autor, tais organizações eram expressamente constituídas para permitir uma colaboração sistemática entre os cientistas. Logo, para Rossi, o resultado da colaboração era o avanço e o progresso das ciências e das artes – evidenciado nas primeiras academias científicas modernas.

Por fim, em “A humanidade como sujeito cognoscente: Pascal”, o autor remonta a ideia de progresso, de ciência e as transformações as quais ocorreram nesse âmbito, a fim de expor um novo modo de formular e considerar a história humana – agora, segundo o autor, a história podia aparecer como o produto de um trabalho conjunto, como o resultado do esforço de várias gerações, cada qual utilizando os labores das gerações anteriores. Para a afirmação dessas ideias, Paolo Rossi diz que, certamente contribuiu muito a difusão de uma tese na qual Campanella e Bacon, Le Roy e Bodin haviam insistido por muito tempo.

Para finalizar o capítulo “A ideia de progresso científico”, Paolo Rossi destaca um texto que remonta a 1647 – que era desconhecido de seus contemporâneos. Esse escrito é autoria de Pascal, segundo o autor, nele há uma formulação orgânica à concepção da história como progresso.

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